TIPOS DE MEDIUNIDADE E OS MÉDIUNS SANEADORES (Parte 1)

No início dos estudos espíritas, através das pesquisas e das experiências realizadas por Allan Kardec, o dom mediúnico foi esclarecido e catalogado conforme nossas condições humanas da época. Nosso entendimento, nosso discernimento, nossa capacidade de compreensão e de raciocínio acerca do mundo espiritual. Os livros e textos de Kardec, também chamados de codificação espírita, foram a base de sustentação que deu início ao Espiritismo na Europa e, posteriormente, em todos os países e continentes onde atualmente existem milhares de médiuns estudando, exercitando os seus dons e atuando em benefício de seus irmãos encarnados e desencarnados. Kardec trouxe à luz da razão o esclarecimento necessário ao estabelecimento e expansão da comunicação com o mundo espiritual.

Em O Livro Dos Médiuns, cap. XIV, item 159, Kardec afirma: “Geralmente, os médiuns têm uma aptidão especial para os fenômenos desta, ou daquela ordem, donde resulta que formam tantas variedades, quantas são as espécies de manifestações”. Ou seja, as manifestações são diversas, os tipos “variam ao infinito”, assim como caminha a evolução individual de cada um de nós e a evolução coletiva do nosso planeta. Pois a cada dia, com mais conhecimento, mais discernimento e capacidade de entendimento, mais informações e orientações nos chegam do plano espiritual, novos dons adormecidos em nossos espíritos são despertados e colocados à disposição da caridade e do atendimento ao próximo.

Vamos resumir as principais manifestações mediúnicas citadas por Allan Kardec:

Médiuns de Efeitos Físicos – são aqueles aptos a produzir fenômenos materiais como a movimentação de objetos, a produção de ruídos, a materialização (de flores ou outros objetos), a levitação de corpos ou objetos, as aparições, entre outros. Segundo os estudos de Kardec, esta faculdade raramente existe naqueles que possuem outros dons mediúnicos de comunicação desenvolvidos ou em pleno desenvolvimento; naqueles em que se manifesta, este dom tende a diminuir na medida em que outro dom passa a ser desenvolvido.

Médiuns Sensitivos ou Impressionáveis – são os médiuns suscetíveis de sentir a presença dos espíritos por uma impressão vaga, por uma sensação em alguma parte do corpo ou mesmo no corpo todo, sensações normalmente difíceis de explicar. Não apresenta uma característica bem definida. Esta faculdade se desenvolve através de seu estudo e utilização e pode chegar a sutileza de se conseguir perceber e identificar a natureza boa ou má do espírito que está ao seu lado ou mesmo no ambiente. Pode chegar ao ponto de reconhecer e identificar os espíritos tal qual um cego desenvolve esta capacidade de forma inexplicável pelo homem, utilizando os sentidos sensoriais mais sutis e delicados. Acrescento aqui, por experiência própria, que podemos sentir nossos irmãos espirituais até mesmo por suas dores, seus sofrimentos e suas angústias. É como se a nossa sensibilidade se estendesse além do nosso corpo físico e percebesse todo o ambiente, todo o espaço e tudo o que há ao seu redor. Esta capacidade pode ainda ser utilizada em estado sonambúlico (desdobramento) ou durante o sono físico. Esta capacidade desenvolvida nos permite perceber a vibração positiva ou negativa, a segurança ou o perigo, nos permite sentir a temperatura, a textura, o peso, as intenções daqueles que estão ao nosso redor no plano espiritual. Posso afirmar que este dom plenamente desenvolvido, com o tempo e com a prática, nos permite perceber também o campo espiritual e energético das pessoas no plano material, captando seus sentimentos, suas vibrações, suas intenções, suas dores, enfim, permite praticamente a mesma percepção que a do plano espiritual. É complexa, difícil de lidar no dia a dia e exige que se dedique muita orientação e acompanhamento ao médium em desenvolvimento.

Médiuns Audientes – são aqueles que ouvem a voz dos espíritos, seja uma voz emitida e captada em seu interior ou uma voz nítida e clara emitida no exterior como se fosse de uma pessoa no plano material. Podem se comunicar diretamente com os espíritos, seja com seus próprios orientadores ou com outros espíritos que queiram enviar recados ou orientações a outras pessoas. Eles podem atuar como instrumento de comunicação para outras pessoas e/ou grupos de estudo e trabalho. Acrescento que é um dom mediúnico que, um pouco mais do que os outros já citados, merece muito cuidado e atenção para que o médium não seja enganado por espíritos maldosos propagando mensagens falsas e insensatas.

Médiuns Audientes ou Falantes - são aqueles através dos quais os espíritos se manifestam através dos órgãos da fala. Normalmente, o médium não tem conhecimento do conteúdo que será dito e muito menos das palavras que serão proferidas. Assim como em outras formas de comunicação, mas de maneira mais direta e imediata, o médium muitas vezes diz coisas das quais não tem o menor conhecimento ou capacidade de compreensão, apesar de estar consciente e acordado, em estado de normalidade. Pelo que foi apresentado no estudo de Kardec, podemos entender que o espírito atua diretamente no chakra laríngeo, não passando a mensagem pelo mental do médium. Isto explica o fato do médium não ter conhecimento prévio da mensagem assim como não conseguir guardar completamente o que foi dito, pois passa a ser um ouvinte como as outras pessoas que estiverem presentes. Aqueles que têm a intuição do que será dito antes da pronúncia do espírito serão tratados mais à frente em outro tipo de manifestação mediúnica.

Médiuns Videntes – são aqueles que possuem a capacidade, o dom, de ver os espíritos. Esta classe de médiuns pode manifestar a sua vidência em estado normal (acordados) ou em estado sonambúlico (emancipação da alma, desdobramento) ou próximo dele (por exemplo: em meditação, em estado de vigília antes do adormecimento). De acordo com as pesquisas realizadas, foi constatado que são os olhos da alma que vêem os espíritos e a realidade espiritual e, justamente por este motivo, os médiuns videntes vêem mesmo com os olhos físicos fechados. Esse fato esclarece que até mesmo os médiuns que são cegos no plano físico podem ter a vidência, pois vêem com os olhos da alma. Acrescento que este dom mediúnico, assim como os outros, possui graus em escala de desenvolvimento o que gera uma diferenciação na faculdade mediúnica de cada indivíduo. Há aqueles que vêem apenas os espíritos invocados, há os que vêem os espíritos que por sua própria vontade se manifestam diante de seus olhos, assim como há aqueles que vêem os espíritos que estão em todo um ambiente e aqueles que vêem até mesmo o plano espiritual onde os espíritos habitam. Os graus de vidência variam assim como varia a sua amplitude e o seu alcance visual. Hoje, há médiuns que projetam a sua visão a outras dimensões e, até mesmo, a outros orbes distribuídos pelo Espaço Sideral (certamente, esses últimos são em número bem menor, mas não são tão poucos!). A vidência é o dom mediúnico com o qual o médium deve ter maior cuidado e atenção, pois muitos espíritos negativados e desequilibrados podem se manifestar com aparências bem afeiçoadas e como bons samaritanos para ludibriar, enganar, zombar e até mesmo induzir a desvios de conduta. E essas manifestações podem ocorrer por longos períodos, existem muitos casos em que médiuns seguiam orientações de espíritos zombeteiros que se passavam por seus Guias e Mentores espirituais. Alguns desses casos foram identificados pelos médiuns através de seus reais Mentores que se utilizaram do ocorrido para ensinar e corrigir desvios de conduta dos próprios médiuns, gerados, entre outras coisas, pelo orgulho e pela vaidade. E servem de ensinamentos a todos nós, nos alertando para que tenhamos muito cuidado com as comunicações que estabelecemos através de nossos dons pessoais. A conduta moral e ética é fundamental para que tenhamos uma vibração mais elevada evitando entrar em faixas de conexão nas quais prevalecem espíritos negativados. Às vezes, vai acontecer uma tentativa ou outra mas, permanecendo atentos, logo conseguimos identificar o “impostor”. Na época em que Allan Kardec realizou seus estudos e pesquisas, era raro o médium que possuía e mantinha este dom permanentemente em seu dia a dia. Hoje, encontramos muitos médiuns com este dom aflorado o que explicamos como uma conseqüência na nossa própria evolução como espíritos em processo de aprendizado durante as nossas reencarnações. Como já dissemos anteriormente, à medida em que caminhamos e adquirimos novos conhecimentos desenvolvemos uma maior capacidade de compreensão e um maior discernimento e passamos a ser merecedores de novas experiências que estimulem e promovam a nossa busca incessante pelo crescimento pessoal e coletivo. Em suas análises, Kardec afirma que o dom da vidência não deve ser levado a desenvolvimento forçado a fim de evitar atuações da própria imaginação dos médiuns, segundo ele este dom deve ser deixado aflorar naturalmente. É certo que, atualmente, pode vir a ser trabalhado pois temos mais informações e recursos mas deve ser rigorosamente acompanhado por orientadores experientes a fim de evitar os frutos da nossa fértil imaginação humana. As visões que ocorrem durante os sonhos não fazem parte deste dom mediúnico e serão abordadas mais à frente.

Médiuns Sonambúlicos – são aqueles que têm a capacidade, o dom, de se desprender do corpo físico conscientes. Eles têm a capacidade de agir sob a influência de seu próprio espírito, de ver, ouvir, perceber, com os sentidos de seu espírito que tem um conhecimento mais dilatado, uma experiência mais ampla devido a toda a sua estória de vidas passadas. No estado sonambúlico, suas idéias são mais justas, seus sentimentos mais nobres, pois sua alma está livre do corpo. Kardec descreve como se ele vivesse a vida dos espíritos antecipadamente. Ele diferencia o médium sonambúlico dos demais esclarecendo que o primeiro exprime o seu próprio pensamento enquanto o segundo exprime o dos espíritos que à ele ou através dele se manifestam. Porém, o médium sonambúlico emancipado (desdobrado) do corpo físico também pode se comunicar com os espíritos e com maior facilidade por estar no mesmo “ambiente”; o que permite que nos transmita o que estão fazendo, sobre o quê estão conversando, o quê sentem, pensam e querem nos dizer. Kardec relata o caso de um rapaz que em estado sonambúlico realizava consultas dando diagnostico de enfermidades que os médicos no plano material não conseguiam identificar, ele tinha o dom de ver as enfermidades nos corpos das pessoas mas não tinha conhecimento necessário ou não manifestava sozinho a orientação para o tratamento e a cura. Então, ele recebia esta orientação de um espírito que sempre estava ao seu lado e que atuava como um médico no plano espiritual receitando remédios e orientando os tratamentos para que a cura se manifestasse no plano material. Tal dom mediúnico pode se manifestar como os demais, em pessoa rica ou pobre, culta ou sem instrução, independente do estado moral do indivíduo. E os espíritos com os quais se comunica podem ser bons ou maus, assim como as suas próprias manifestações podem ser exatas ou falsas, com escrúpulos ou não. É um dom mediúnico que, juntamente com a vidência, exige muita atenção e cuidado em sua manifestação. A qualidade das manifestações exige ilibada conduta moral e ética, pois somente através da Lei das atrações e da Lei das afinidades é possível estabelecer contato com espíritos um pouco mais elevados que possam interagir conosco de forma clara e produtiva, transmitindo ensinamentos que possam ser utilizados para o nosso crescimento e para o crescimento de nossos irmãos através do trabalho de caridade.    

Médiuns Curadores – são aqueles que manifestam de forma natural e espontânea o dom de curar outras pessoas (ou mesmo espíritos) que estejam com alguma enfermidade. Em seus estudos, Kardec verificou que essa cura pode se dar pelo simples toque, pelo olhar, por um gesto ou pelo pensamento direcionado ao enfermo. Muitos dizem que tal feito ocorre pura e simplesmente através de magnetismo, mas muitas pessoas experientes na utilização do magnetismo não conseguem realizar curas. O magnetismo é regular e metódico e necessita de estudo e preparo. O dom mediúnico da cura não é proveniente apenas de magnetização mas de uma capacidade, uma faculdade mediúnica, um dom específico que não pode ser manifestado apenas pela nossa mera vontade. Na maioria dos casos, as curas realizadas através dos médiuns acontecem das mais diversas formas e métodos não ortodoxos, e muitos deles desconhecem as técnicas de magnetismo. As curas acontecem de forma espontânea, muitas delas através de uma interação entre o plano material e espiritual para que, de fato, o dom mediúnico se manifeste e o tratamento seja efetivado. Tal interação pode ocorrer apenas através da canalização ou mesmo da atuação direta de um espírito através do médium. Kardec, em seu contato com os Espíritos, confirmou que “a força magnética reside, sem dúvida, no homem, mas é aumentada pela ação dos espíritos que ele chama em seu auxílio. (...) o espírito aumenta a tua força e a tua vontade, dirige o teu fluido e lhe dá as qualidades necessárias.” Ele confirma, também, que há pessoas que verdadeiramente possuem o dom de curar pelo simples contato, sem o emprego dos passes magnéticos. Portanto, médiuns curadores são aqueles que possuem em si, em sua constituição física e espiritual, as condições necessárias para realizar curas independente da ação dos espíritos. Cada um num determinado grau, uns com maiores capacidades, outros com menores. Uns com facilidades para doenças de pele, outros para problemas cardíacos, uns atuam apenas em algumas enfermidades superficiais, outros podem atuar em casos mais complexos, em casos cirúrgicos. Há que se observar e ter muita prudência, pois os tratamentos espirituais não se sobrepõe ao acompanhamento médico e ao tratamento orientado pelos profissionais de saúde no plano material.

----- >>>>>  Continua em Tipos de Mediunidade e os Médiuns Saneadores (parte 2)

SENZALA DE UMBANDA

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